Dólar atinge R$ 5,999 pela primeira vez na história, impulsionado por pacote fiscal de Haddad
- headlinebrnews
- 28 de nov. de 2024
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Mercado reage ao pacote fiscal de Haddad e aguarda detalhes sobre medidas econômicas

O dólar abriu esta quinta-feira (28/11) em alta, cotado a R$ 5,999 por volta das 9h, marcando a primeira vez na história que atinge esse patamar. Às 9h45, a moeda americana registrava um avanço de 0,84% sobre o real, a R$ 5,96. Na véspera, fechou a R$ 5,91, com elevação de 1,80%.
O mercado reage ao anúncio do pacote fiscal liderado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que fez um pronunciamento em rede nacional na noite de quarta-feira (27/11). Chamou a atenção a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000, medida que deve começar a valer a partir de 2026 e que prejudica a arrecadação. Haddad afirmou que a perda de receita será compensada pelo aumento na cobrança das pessoas com renda superior a R$ 50.000, mas não deu detalhes suficientes.
Outro ponto preocupante é a viabilidade das projeções de economia nas iniciativas pelo lado da despesa, que podem estar infladas. A equipe econômica espera um impacto de R$ 327 bilhões de 2025 até 2030. Ministros detalharam nesta manhã os anúncios preliminares feitos por Haddad. A depender do que for sinalizado, a moeda norte-americana pode perder fôlego – ou o contrário. A missão do governo agora é provar que o pacote é crível.
Haddad também anunciou um teto para o reajuste do salário mínimo, que será de 2,5% acima do INPC de 12 meses até novembro do ano anterior. Antes, o reajuste era baseado na variação do PIB de dois anos anteriores. Se a regra valesse para 2025, o reajuste seria menor, já que o crescimento do PIB de 2022 foi de 2,9%.
O ministro confirmou que haverá uma idade mínima para que militares entrem na reserva, além de limitação de transferência de pensões. O abono salarial será pago apenas aos que recebem até R$ 2.640, valor que será corrigido pela inflação nos próximos anos e se tornará permanente quando representar um salário mínimo e meio. Atualmente, o benefício é pago aos trabalhadores que recebem dois salários mínimos (R$ 2.824).
Outra medida é impedir que benefícios tributários sejam prorrogados, criados ou ampliados durante contextos de déficit primário das contas. O anúncio oficial do pacote veio após longas discussões sobre as medidas voltadas para as despesas públicas. A equipe econômica tem dado destaque ao assunto especialmente nas últimas cinco semanas, apesar de ser uma promessa de longa data do governo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou reuniões em novembro com diversos ministros para debater o tema. Haddad havia dito que entregaria o pacote no começo do mês, o que não se concretizou. A principal razão para o atraso foi a discordância entre os integrantes do governo, que não queriam suas áreas afetadas. Outro ponto que preocupou o Planalto foi a popularidade de Lula, já que muitos dos programas afetados têm forte apelo social.
Outros eventos deixaram o calendário apertado, como a realização da Cúpula do G20 no Rio, no dia 18, e o ataque do homem-bomba na Praça dos Três Poderes, em 13 de novembro. Os ministros fora da equipe econômica que mais se envolveram nas discussões foram José Múcio (Defesa), Camilo Santana (Educação), Luiz Marinho (Trabalho), Carlos Lupi (Previdência) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social).
O Ministério da Defesa precisou ser convencido de que a revisão em gastos dos militares traria economia nas contas públicas, sendo um dos últimos órgãos a entrar nos debates. Múcio disse em 20 de novembro que iria “contribuir” com as propostas e fazer “um sacrifício para resolver o problema do país”. As discussões foram mais complexas com outros ministérios. Luiz Marinho ameaçou pedir demissão caso houvesse corte em políticas trabalhistas sem sua consulta e se manifestou ativamente contra medidas que, na visão dele, prejudicam os trabalhadores.
O objetivo central do pacote é equilibrar as contas públicas e cumprir as metas fiscais, ou seja, que os gastos sejam iguais às receitas em 2025, com expectativa de déficit zero. Na prática, é necessário aumentar a arrecadação e diminuir as despesas. Pouco foi feito pelo lado da segunda opção, mesmo com o governo Lula 3 quase na metade. O mais próximo que o governo chegou de cortar gastos foi em agosto, quando anunciou um pente-fino em benefícios sociais. Entretanto, a iniciativa não mudava a configuração estrutural das despesas, especialmente as obrigatórias, sendo apenas um recadastramento de usuários.
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